Entrevista: 10 perguntas a… Fundació Solidaritat Universitat de Barcelona

Esta secção tem como objetivo apresentar cada beneficiário, explicar o seu setor e descrever o seu trabalho no âmbito do projeto. Hoje é a vez de Antonina Torrens e Pau Cantos, da Fundació Solidaritat Universitat de Barcelona (FSUB).

O que é a Fundació Solidaritat Universitat de Barcelona (FSUB)?

A Fundació Solidaritat Universitat de Barcelona (Fundação Solidariedade UB) é o braço de responsabilidade social da Universidade de Barcelona. Desde 1996, tem transformado o conhecimento académico em soluções reais para os desafios globais da atualidade.

Para além de apoiar refugiados, defender os direitos humanos e promover a educação inclusiva, a Fundação está também profundamente envolvida na sustentabilidade e na ação climática. Desenvolve projetos de gestão da água, biodiversidade e soluções baseadas na natureza, ajudando as comunidades a adaptarem-se às alterações climáticas enquanto protegem os ecossistemas. Desde iniciativas de agricultura urbana até à investigação colaborativa sobre energias renováveis e cidades sustentáveis, a Fundació Solidaritat UB faz a ponte entre ciência, política e sociedade.
O seu trabalho liga o local ao global: envolve estudantes em voluntariado e inovação social em Barcelona, ao mesmo tempo que estabelece parcerias com universidades e organizações em todo o mundo para promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Em suma, a Fundació Solidaritat UB é o lugar onde a universidade encontra o mundo — mobilizando conhecimento, solidariedade e inovação para construir um futuro mais justo e sustentável.

Há quanto tempo trabalham na Fundació Solidaritat UB e qual é o vosso percurso e papel na instituição?

Antonina Torrens: Comecei a colaborar com a Fundació Solidaritat UB em 2005, enquanto realizava a minha investigação doutoral através de um projeto em Marrocos. Desde então, participei em numerosas iniciativas de cooperação internacional em países como Vietname, Marrocos, Senegal, Palestina, Laos e Camboja, sobretudo focadas em Soluções Baseadas na Natureza e no tratamento e reutilização de águas residuais. Paralelamente, continuei a minha carreira académica na Universidade de Barcelona, no Departamento de Biologia, Saúde e Ambiente, onde leciono e desenvolvo investigação em saneamento ambiental. Atualmente, na Fundació Solidaritat UB, sou responsável pelo programa Soluções Baseadas na Natureza para o Desenvolvimento Sustentável, que conecta o conhecimento académico a soluções práticas para comunidades que enfrentam desafios ambientais e sociais.

Pau Cantos: Trabalho na Fundació Solidaritat UB há mais de dez anos. Com formação em ciência política, coordeno projetos de cooperação e educação para a justiça global. Uma das minhas responsabilidades é apoiar as administrações públicas locais na elaboração de conteúdos sobre cooperação para o desenvolvimento. Atualmente, trabalhamos em tandem em vários projetos relacionados com a sustentabilidade, tanto no quadro europeu como a nível internacional.

O que mais gostam no vosso trabalho?

Trabalhar num ambiente multidisciplinar como a Fundació Solidaritat UB, onde áreas tão diversas como memória democrática, refúgio e asilo, sustentabilidade ambiental, género e educação para a justiça global se cruzam, é extremamente enriquecedor. Embora o nosso trabalho esteja organizado em programas, o contacto constante e a colaboração entre diferentes áreas proporcionam um crescimento pessoal e profissional contínuo.

Uma motivação fundamental é a oportunidade de aplicar soluções inovadoras que melhoram a gestão ambiental, ao mesmo tempo que fortalecem a cooperação entre universidades e atores do desenvolvimento. Esta abordagem aumenta o impacto social da investigação, garantindo que o conhecimento se traduz em benefícios concretos para as comunidades. Demonstra também como a experiência académica pode contribuir diretamente para a sustentabilidade e a transformação social.

A dimensão internacional do nosso trabalho permite-nos conhecer outras realidades e formas de atuar, abrindo perspetivas que geram tanto desafios como aprendizagens aplicáveis. Construir e participar em redes dá-nos também a oportunidade de conhecer pessoas e instituições com quem, mais tarde, desenvolvemos projetos conjuntos — como a nossa participação no SOLLAGUA.

Este é o vosso primeiro projeto europeu?

A Fundació Solidaritat UB tem já uma longa experiência em projetos europeus, tendo participado em iniciativas Erasmus+, programas de Capacitação no Ensino Superior, e até em programas de investigação como o H2020. No entanto, esta é de facto a nossa primeira participação num projeto Interreg, o que consideramos particularmente enriquecedor.

A principal força distintiva do Interreg reside no seu forte enfoque territorial, juntando uma grande diversidade de atores — desde universidades e centros de investigação até autoridades locais, ONG e comunidades — para co-desenhar e aplicar soluções práticas.

Para nós, este formato é especialmente atrativo porque reforça a ligação entre o conhecimento académico e a sua aplicação direta em contextos reais, promovendo ao mesmo tempo a colaboração transfronteiriça.

Outra razão-chave pela qual valorizamos os projetos internacionais é a possibilidade de identificar desafios e barreiras comuns que afetam as universidades — no nosso caso — mas também a sociedade civil em geral. Reunir diferentes atores com perspetivas diversas para enfrentar problemas partilhados enriquece o nosso trabalho e fortalece a nossa capacidade de resposta.

Qual é o interesse do SOLLAGUA para a Fundació Solidaritat UB?

Como especialistas em Soluções Baseadas na Natureza, o SOLLAGUA representa uma oportunidade única para ampliar as nossas intervenções a nível europeu e aplicá-las em contextos reais que beneficiam diretamente a sociedade civil, contribuindo modestamente para a melhoria dos serviços ligados à reutilização de água.

O envolvimento com administrações públicas — tanto locais como supranacionais — de países vizinhos como França e Portugal, e a análise das diferenças na legislação e das oportunidades para adaptar e aplicar as soluções propostas, têm sido particularmente estimulantes. Isto foi especialmente relevante face às alterações legislativas ocorridas durante o processo de revisão. Estas dinâmicas de trabalho em ecossistema vivo enriquecem o nosso conhecimento e ajudam-nos a manter-nos atualizados.

Qual é a missão da Fundació Solidaritat UB no projeto SOLLAGUA?

A missão da Fundació Solidaritat UB no projeto SOLLAGUA é aplicar a sua vasta experiência em reutilização de água, direito ambiental e soluções baseadas na natureza para promover uma gestão sustentável da água em áreas rurais. A FSUB desempenha um papel central no desenho e avaliação de sítios de demonstração onde sistemas inovadores e baseados na natureza tratam e reciclam águas residuais, assegurando tanto o desempenho técnico como o equilíbrio ecológico.

Em conjunto com a Universidade de Barcelona, monitoriza a qualidade da água e a saúde dos ecossistemas circundantes, recorrendo também à sua experiência em anteriores Living Labs para orientar a replicação e adaptação em novos contextos. Para além do trabalho técnico, a FSUB está profundamente empenhada em difundir conhecimento e promover a adoção destas estratégias entre universidades, autoridades públicas, empresas e utilizadores finais.

Em suma, a sua missão é fazer a ponte entre ciência, regulação e sociedade, para que a reutilização de água através de soluções baseadas na natureza se torne não só viável, mas também um caminho partilhado para a resiliência climática e a sustentabilidade em toda a região SUDOE.

Em que estão atualmente envolvidos?

A nossa primeira tarefa foi elaborar o Estado da Arte, que já foi publicado. Graças ao apoio dos nossos parceiros, acreditamos que é um documento muito sólido. O Estado da Arte é uma revisão das tecnologias atuais para a recuperação de águas residuais. Embora se foque inicialmente em Soluções Baseadas na Natureza (NBS), alarga-se também às tecnologias “cinzentas” e a sistemas híbridos.

O objetivo é identificar tecnologias eficazes e inovadoras para a reutilização de água, destacar tendências, identificar lacunas e explorar possíveis direções futuras. Enquanto recurso técnico para o projeto SOLLAGUA, fornece informações essenciais para a seleção de tecnologias de reutilização e para o desenvolvimento de estratégias em diferentes cenários.

Este documento apoiou igualmente a criação da árvore de problemas do projeto, na qual estivemos ativamente envolvidos. Nesta fase, começamos a trabalhar na componente educativa para os beneficiários do projeto, que consideramos altamente relevante. Para nós, isto é um pilar do SOLLAGUA, pois garante que os resultados da investigação são transferidos para a prática real e chegam aos utilizadores finais — desde decisores políticos até agricultores e cidadãos.

Quais são os principais desafios que enfrentam atualmente?

Um dos principais desafios que enfrentamos é a complexidade de adaptar as Soluções Baseadas na Natureza a contextos rurais muito diferentes, assegurando ao mesmo tempo o cumprimento de quadros legais diversos em Espanha, França e Portugal. Conciliar inovação técnica com requisitos regulamentares nem sempre é simples, sobretudo numa área como a reutilização de água, onde a legislação está em rápida evolução.

Outro desafio é garantir que os atores locais — desde agricultores até municípios — se sintam confiantes para adotar estes novos sistemas. A construção de confiança leva tempo e exige não só evidência científica, mas também processos de comunicação fortes e participativos.

Quais são as principais conclusões até agora?

Até ao momento, uma das conclusões mais importantes é que as Soluções Baseadas na Natureza não são apenas eficazes do ponto de vista técnico, mas também socialmente aceitáveis quando as comunidades são envolvidas desde o início.

O entregável «Portefólio de diferentes esquemas de tratamento para reutilização de água», que desenvolvemos, mostrou o vasto potencial da combinação de tecnologias verdes, cinzentas e híbridas, evidenciando que abordagens ajustadas ao contexto são essenciais: o nível adequado de tratamento depende das necessidades reais de cada caso.

Confirmámos também que a colaboração transnacional acrescenta grande valor: partilhar experiências na região SUDOE revela desafios comuns mas também práticas inovadoras que podem inspirar a replicação noutros locais.

Qual será a contribuição do SOLLAGUA após o fim do projeto em termos científicos, sociais e económicos?

Concluído o projeto, o SOLLAGUA deixará uma contribuição tripla.  Científica, fornecerá novas evidências e modelos práticos sobre como as soluções baseadas na natureza podem tratar e reutilizar água de forma eficiente em áreas rurais, gerando conhecimento que reforça a liderança europeia na gestão sustentável da água. Social, capacitará comunidades locais, agricultores e autoridades públicas com ferramentas acessíveis e sítios de demonstração que provam que a reutilização de água é segura, inclusiva e benéfica para os ecossistemas, construindo ao mesmo tempo confiança através do envolvimento dos cidadãos. Económica, demonstrará que a reutilização de água com tecnologias de baixo custo e baixo consumo energético não é apenas viável, mas também competitiva, abrindo portas a uma contratação pública mais ecológica e a novas oportunidades para PME e atores locais.

Em suma, o seu legado será transformar a escassez de água de um desafio urgente num motor de inovação, resiliência e prosperidade partilhada em toda a região SUDOE!

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