Redescobrir ou desenvolver do zero? Uma análise sobre as possibilidades do drug repurposing

O processo tradicional de descoberta de medicamentos é lento e caro, com uma duração média de 12 a 15 anos desde a fase de desenvolvimento regulatório até a aprovação final. Esta abordagem revela-se particularmente ineficaz em situações de emergência sanitária ou no caso de doenças raras que afetam um número reduzido da população. Situações em que as possibilidades de investimento por parte da indústria e de particulares são limitadas face aos elevados custos dos processos.

Neste contexto, o reposicionamento de medicamentos surgiu como uma estratégia alternativa para acelerar o desenvolvimento de tratamentos. Consiste em encontrar novos usos terapêuticos para medicamentos já conhecidos, permitindo aproveitar a informação existente sobre a sua segurança, eficácia e processos de fabrico.

Desta forma, o drug repurposing permite contornar as fases iniciais do desenvolvimento clínico e os ensaios clínicos de fase I. Com esta estratégia, após os estudos in vitro e in vivo, acede-se diretamente aos estudos clínicos de fase II, onde o tratamento em pacientes confirmará ou não a eficácia terapêutica.

Image 1 - “Is drug repurposing really the future of drug discovery or is new innovation truly the way forward?” de Carmen Gil y Ana Martínez (2021).
Image 1 – “Is drug repurposing really the future of drug discovery or is new innovation truly the way forward?” de Carmen Gil e Ana Martínez (2021)

 

Este avanço proporciona uma redução significativa no tempo e nos custos em comparação com o processo tradicional de fabrico de medicamentos. Além disso, ao tirar partido do conhecimento pré-existente sobre a segurança e o uso clínico dos medicamentos, minimizam-se os riscos e reduz-se a incerteza associada ao processo de desenvolvimento, facilitando uma resposta mais rápida em situações de emergência sanitária.

 

Image 2 - “Is drug repurposing really the future of drug discovery or is new innovation truly the way forward?” de Carmen Gil y Ana Martínez (2021).
Image 2 – “Is drug repurposing really the future of drug discovery or is new innovation truly the way forward?” de Carmen Gil e Ana Martínez (2021)

 

A metodologia associada ao drug repurposing também evoluiu nos últimos tempos. Embora originalmente se baseasse em descobertas fortuitas, atualmente a reutilização de medicamentos segue uma abordagem mais racional, utilizando bibliotecas de compostos aprovados e técnicas computacionais avançadas para identificar novas indicações. Esta abordagem tem sido útil na identificação de tratamentos em situações críticas, como o uso de Remdesivir para a COVID-19.

Contudo, ainda há muito a fazer. O futuro do desenvolvimento de medicamentos exige um avanço rumo a terapias verdadeiramente disruptivas, suportadas por tecnologias como o deep learning, o big data ou modelos baseados em biologia humana. Ao mesmo tempo, a colaboração entre investigadores e a capacidade de integrar o conhecimento de múltiplas áreas e mapear doenças a diferentes escalas será fundamental para desenvolver tratamentos mais eficazes.

A informação que aqui partilhamos baseia-se no conteúdo do artigo Is drug repurposing really the future of drug discovery or is new innovation truly the way forward? de Carmen Gil e Ana Martínez (2021). 

A partir do RePo-SUDOE continuamos a apostar na divulgação de conhecimento e aprendizagens para demonstrar o potencial do drug repurposing e como, por vezes, as soluções mais inovadoras estão naquilo que já conhecemos.