O documento “Estudo do uso da água na indústria têxtil no espaço SUDOE” analisa em profundidade os desafios e oportunidades enfrentados pelo setor têxtil na gestão sustentável da água, especialmente nas regiões de Portugal, Espanha, Andorra e sudoeste da França. Este estudo está inserido no projeto Fashion Forward Interreg Sudoe, que visa adaptar a indústria têxtil às exigências do Pacto Ecológico Europeu e promover a circularidade e sustentabilidade no setor, com especial atenção às áreas rurais, onde o têxtil tem grande impacto económico, social e ambiental.
Contexto geral: importância e desafios
A indústria têxtil é uma das mais intensivas no consumo de água, devido a processos como lavagem, tingimento e acabamento de tecidos. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, o consumo de têxteis na UE em 2020 representou a terceira maior pressão sobre o uso da água. Além disso, a indústria gera grandes volumes de águas residuais, o que agrava os desafios num contexto de crescente escassez hídrica e alterações climáticas.
A lavagem e o enxágue de têxteis, especialmente após a aplicação de químicos ou corantes, requerem vários ciclos, aumentando o consumo hídrico. Em regiões com stress hídrico, como o espaço SUDOE, a gestão eficiente e circular da água é uma estratégia-chave para a resiliência e sustentabilidade do setor.
Gestão circular da água: recirculação e reutilização
O estudo destaca que a gestão circular da água começa com o tratamento das águas residuais para atingir uma qualidade adequada ao novo uso, processo conhecido como regeneração. A água regenerada pode ser recirculada dentro da mesma instalação industrial ou reutilizada noutros processos. Estas estratégias permitem reduzir o impacto ambiental e otimizar o uso dos recursos hídricos, diminuindo a pressão sobre fontes naturais e a poluição dos efluentes.
Projeto LIFE WAT’SAVEREUSE: aprendizados e oportunidades
O documento recolhe aprendizados do projeto europeu LIFE WAT’SAVEREUSE (2020-2024), liderado pela Eurorregião Pirineus Mediterrâneo e com a participação de entidades como o Catalan Water Partnership e Eurecat. O projeto focou-se na promoção da economia circular e da reutilização da água em setores intensivos, como o turismo, e gerou ferramentas como repositórios de tecnologias e planos de gestão sustentável da água.
Entre os resultados mais destacados, foram impulsionadas linhas de apoio à adoção de tecnologias de poupança e reutilização de água, especialmente na Catalunha e nas Baleares, evidenciando a importância da colaboração público-privada e da transferência de conhecimento entre setores.
Diagnóstico e estratégias para a eficiência hídrica
O relatório realiza um diagnóstico detalhado dos processos têxteis que mais consomem água:
Cultivo e produção de fibras naturais
Pré-tratamento de tecidos
Tingimento e estampagem
Acabamentos químicos
Além disso, analisa a eficiência hídrica a nível global e no espaço SUDOE, a qualidade das águas residuais e as barreiras e oportunidades para a gestão circular da água.
Normativas e tecnologias
O estudo revê a legislação europeia e nacional sobre reutilização da água em França, Espanha e Portugal, e apresenta estratégias e tecnologias-chave para reduzir o consumo hídrico, tais como:
Lavagem em contracorrente
Uso eficiente de produtos químicos
Recirculação direta e reutilização da água
Tecnologias de regeneração e segregação de efluentes
Soluções emergentes como tecnologias de tingimento sustentável e sistemas de acabamento a seco
Casos de sucesso e projetos de inovação
Destacam-se experiências e projetos de I&D no espaço SUDOE que alcançaram melhorias significativas na eficiência hídrica, demonstrando a viabilidade técnica e económica da circularidade da água no setor têxtil.
Conclusões
O estudo conclui que a transição para uma gestão circular da água é essencial para a sustentabilidade e competitividade da indústria têxtil no espaço SUDOE. A integração de tecnologias inovadoras, a colaboração entre atores e o cumprimento normativo são fatores-chave para reduzir o consumo de água, minimizar o impacto ambiental e garantir a resiliência do setor face aos desafios climáticos e regulatórios.